domingo, 18 de maio de 2014

VIDA ETERNA


  MARCO NESTAS PÁGINAS AMARELADAS pelo tempo, tão ásperas em minhas mãos, com um simples lápis apontado por meu canivete, estas últimas palavras que um ser humano vai escrever na face da terra. Digo isso por pensar ser o único ser vivo existente e o dom da imortalidade que alcancei. Hoje de nada me serve.

Maldito seja meu nome, por na juventude repleta de livros, ter procurado a vida eterna; malditos sejam mil vezes os meus olhos por terem percorrido aquelas páginas e decifrado os símbolos e fórmulas alquímicas que me possibilitaram derrotar a morte.

Meus pés andam em um mundo destruído, onde os únicos restos de uma raça que dominou terra, água e ar são apagados pelo tempo.

Dedico esse texto ao esquecimento. Quem vai ler meus pensamentos? Qual criatura vai conhecer minha história?

Incrível como em questão de poucos anos no abandono, as árvores crescem ou a grama conquista seu espaço. A poeira formou camadas sobre tudo, as rachaduras andam atrás de mim e correm em minha frente.

Parece que, se não tem ninguém para ver ou escutar, tudo se desenvolve e o silencio agora eterno cria vida aos meus olhos.

Na escuridão da noite, olho as estrelas pálidas e me pergunto se ainda  existe alguém neste mundo ou até em outros planetas. Antes do fim, tivemos sinais da existência de civilizações alienígenas, mas o tempo foi pouco e não permitiu uma resposta.

A energia vai se esgotando. Consegui acumular baterias e pilhas Agora tudo me pertence. Apesar de não precisar comer, sinto necessidade de ter o gosto de algo comestível. Os enlatados vão me satisfazer por muito tempo, mas sei que a cada dia vou ter que criar o que uso ou consumo.

De uma coisa tenho certeza: bastante tempo eu vou ter para ler e juntar todo o conhecimento deste mundo que acabou. Sou o que sobrou, o único que o tempo não vai destruir.


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