MARCO NESTAS PÁGINAS AMARELADAS pelo tempo, tão ásperas em minhas mãos, com um simples lápis
apontado por meu canivete, estas últimas palavras que um ser humano vai
escrever na face da terra. Digo isso por pensar ser o único ser vivo existente
e o dom da imortalidade que alcancei. Hoje de nada me serve.
Maldito seja
meu nome, por na juventude repleta de livros, ter procurado a vida eterna; malditos sejam mil vezes os meus olhos por terem percorrido aquelas páginas e decifrado
os símbolos e fórmulas alquímicas que me possibilitaram derrotar a morte.
Meus pés
andam em um mundo destruído, onde os únicos restos de uma raça que dominou
terra, água e ar são apagados pelo tempo.
Dedico esse
texto ao esquecimento. Quem vai ler meus pensamentos? Qual criatura vai
conhecer minha história?
Incrível como
em questão de poucos anos no abandono, as árvores crescem ou a grama conquista
seu espaço. A poeira formou camadas sobre tudo, as rachaduras andam atrás de
mim e correm em minha frente.
Parece que, se
não tem ninguém para ver ou escutar, tudo se desenvolve e o silencio agora
eterno cria vida aos meus olhos.
Na escuridão
da noite, olho as estrelas pálidas e me pergunto se ainda existe alguém neste mundo ou até em outros
planetas. Antes do fim, tivemos sinais da existência de civilizações alienígenas,
mas o tempo foi pouco e não permitiu uma resposta.
A energia vai
se esgotando. Consegui acumular baterias e pilhas Agora tudo me pertence. Apesar
de não precisar comer, sinto necessidade de ter o gosto de algo comestível. Os enlatados
vão me satisfazer por muito tempo, mas sei que a cada dia vou ter que criar o que
uso ou consumo.
De uma coisa tenho
certeza: bastante tempo eu vou ter para ler
e juntar todo o conhecimento deste mundo que acabou. Sou o que sobrou, o único que
o tempo não vai destruir.
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